Já foi apresentada a coleção de vinhos raros da Van Zellers & Co., três exclusivas colheitas do século XIX, o palco escolhido foi a joalheria histórica Leitão & Irmão. Estas joias, adornadas com gargantilhas de prata, honram momentos como o nascimento de Fernando Pessoa (1888) e a eleição de Abraham Lincoln (1860), representando a tradição vinícola da família no Douro desde 1620 e o compromisso com a excelência dos seus vinhos do Porto.
Cristiano van Zeller, sua esposa Joana van Zeller e a filha Francisca estiveram em Lisboa para apresentar a sua coleção de vinhos do Porto, em particular as três raridades do século XIX. O local escolhido sente igualmente o peso histórico, a joalharia Leitão & Irmão fundada em 1822 e atualmente situada no coração da cidade, no Bairro Alto.
Fomos recebidos pelo proprietário Jorge Van Zeller Leitão, 6a. geração do fundador, que nos conduziu pelas oficinas de prata e ouro. Um mundo fantástico este, de artesãos que trabalham estes metais preciosos e os transformam em belas e distintas peças de joalharia , entre as quais as gargantilhas em prata que irão adornar a rara coleção das garrafas de Vinho do Porto Van Zeller.
História da família e marca Van Zeller
Os Van Zeller estão em Portugal, vindos dos Países Baixos, desde 1620 como comerciantes de Vinho do Porto. Ao longo de quatro séculos mantiveram essa ligação, com Cristiano van Zeller (14.ª geração) e Francisca van Zeller (15a. geração) a darem atualmente continuidade a esse legado.
Cristiano esteve envolvido e iniciou alguns projetos, dando voz ao Douro com a Quinta do Noval, Quinta do Crasto, Quinta Vallado e mais recentemente com a Quinta Valle D. Maria. Desde que as marcas VZ e Van Zellers lhe foram oferecidas pelo seu primo João, Cristiano começou a organizar stocks de Vinho do Porto, adquirindo várias colheitas a produtores conhecidos há várias gerações. Após a venda da Quinta Valle Dona Maria em 2017 à Aveleda, a família passou a dedicar-se a tempo inteiro à Van Zellers & Co.
É em 2020 que esta marca é relançada no mercado com nova imagem e novo futuro e desde aí vários Vinhos do Porto foram lançados, como os Tawnies e 10, 20, 30, 40 e 50 anos, até que chegamos aos dias de hoje com a apresentação da rara coleção do século XIX.
A tão aguardada prova
Cristiano que tem o dom da oratória, é um fantástico contador de histórias com uma memória prodigiosa. Conduziu-nos durante a prova que se seguiu, através de séculos até chegarmos a este dia de lançamento. Provámos seis colheitas Tawny (1989, 1974, 1968, 1950, 1935, 1934) e duas de Porto Branco (1968 e 1940).
Nesta fase da prova, em jeito de preparação para o que viria a seguir, percebemos as especificidades de cada colheita nem sempre seguindo a lógica do tempo ou do lugar, mas com elementos comuns como a delicadeza e a amplitude de aromas e sabores.
Logo a seguir, o momento tão esperado com o desfile das três colheitas centenárias, às quais a familia, associou e celebrizou momentos históricos marcantes:
1888 – Crafted by Poetry (nascimento de Fernando Pessoa)
1870 – Crafted by Family (casamento dos bisavós, Cristiano e Carlota)
1860 – Crafted by Liberty (eleição de Abraham Lincoln como presidente dos EUA)
Aqui chegados, o tempo pára, o silêncio impera, a intemporalidade nos copos transporta-nos para realidades passadas. Um deleite para os sentidos. Um privilégio poder testemunhar este legado.
Neste regresso ao passado, em que o tempo modelou estas obras de arte, sentimos o trabalho, o empenho, o esforço de muitas gerações e a ligação ao território, ao Douro, para que possamos, agora, passados mais de 160 anos, contemplarmos e apreciarmos estes vinhos sublimes.
São peças do tempo, são preciosidades que chegam assim aos nossos dias!
© Fotografias Cláudia Rocha e Rita Rivotti