Adega do Cartaxo assinala 70 anos com 1954 garrafas de um tinto especial
Para celebrar os 70 anos da Adega do Cartaxo, foi lançada uma edição Comemorativa (1954-2024). Trata-se de um tinto especial, que resulta de um blend das melhores barricas da colheita de 2015, de vários vinhos e castas, com estágio de 12 meses em carvalho francês com grão extrafino, selecionadas pelo enólogo Pedro Gil. Complexo e elegante, o Adega do Cartaxo Edição Comemorativa 70 Anos tem grande potencial de guarda e é perfeito para acompanhar pratos de sabor intenso, especialmente carnes.
Fundada em 1954, por um grupo de 20 associados, a Adega Cooperativa do Cartaxo tem raízes numa região com uma forte tradição vitivinícola, onde existem referências históricas a esta atividade anteriores ao século X. Durante 20 anos, ou seja, desde a fundação até 1974, a Adega do Cartaxo funcionou nas instalações da antiga Junta Nacional do Vinho (atual Instituto da Vinha e do Vinho). Desde 1975, a Adega está localizada e labora no Sítio da Precateira. Destaca-se por ser o segundo maior produtor da região vitivinícola dos Vinhos do Tejo, sendo o primeiro da sub-região Cartaxo. Olhando para o concelho do Cartaxo, a Adega é o maior empregador, com 46 funcionários, tendo como premissa o investimento no reforço dos seus recursos, humanos e tecnológicos, ao serviço de uma cada vez melhor produção vinícola.
Até aos anos 70/80, a região e também a Adega atravessou um período menos positivo, associado ao valor e falta de notoriedade dos seus vinhos. Nos anos 1989/90 dão-se os primeiros passos na modernização da adega, ao nível da vinificação e do engarrafamento. Um movimento acompanhado no campo, com a reestruturação das vinhas, com início na década de 90. Jorge Antunes, o atual presidente, entrou para a Adega em 1994, tendo integrado a direção em 1998, recorda que “a produção era maioritariamente a granel e o volume de faturação rondava os 1,8 milhões de euros. A Adega sempre fez uma gestão de contas bastante prudente e até conservadora, com vista a nunca comprometer os seus compromissos com terceiros, estando, contudo, bastante dependente da variação dos preços do vinho a granel, devido ao peso que este tinha no seu volume de negócios”.
Há cerca de 25 anos (1999/2000), a Adega do Cartaxo começou a introduzir novas castas tintas como a Touriga Nacional, Alicante Bouschet, Syrah, Cabernet Sauvignon, Merlot, e mais recentemente a Tinta Barroca. No caso das variedades brancas, esse processo foi mais recente, com início em 2012, com a aposta em Sauvignon Blanc, Chardonnay, Arinto e Verdelho.
O ano de 2004 refletiu um marco de grande viragem: com cinquenta anos de experiência, a Adega do Cartaxo passou a ter uma visão mais estratégica do negócio. Houve necessidade de investir na modernização da área produtiva nomeadamente na renovação tecnológica, ao nível da vinificação, como o investimento em novos equipamentos de receção e vinificação com controlo de temperatura, e do engarrafamento, com uma nova linha, já com um nível de automatismos incorporados muito elevado. Também a nível ambiental, construção de uma ETAR. Isto permitiu um aumento da capacidade de resposta e, por conseguinte, a grande melhoria dos vinhos. A partir de 2005/2006, a Adega foi praticando uma gestão orientada para o mercado, para os vinhos engarrafados e embalados e, consequentemente, para a qualidade, diversificação e diferenciação, tendo como objetivo criar valor acrescentado. Consequentemente, o volume de negócios foi crescendo e a sua gestão económica e financeira foi ficando mais sólida e sustentável. Em 2005, a Adega do Cartaxo faturou 3,46 milhões de euros. Em 2008, a Adega redefine a sua política de internacionalização, com uma estratégia de consolidação mercado a mercado. Em resultado, em 2010 dá-se um salto qualitativo ao nível das marcas: nasceram as gamas média-altas, que atualmente representam cerca de 25% dos vinhos engarrafados.
Com vista a aumentar o relacionamento com os enófilos e a notoriedade, a Adega tem vindo a apostar na vertente de enoturismo, apostando em visitas e provas de vinhos variados. Em tempo de vindimas, tem um programa especial, que inclui ida à vinha, o tão desejado corte das uvas, experiência de pisa a pé, almoço e passeio de barco no rio Tejo.
Na vindima de 2023, a Adega do Cartaxo transformou 11 700 toneladas de uvas (75% tintas e 25% brancas), dando origem a 9,6 milhões de litros, valor que traduzido em garrafas representa cerca de 12,8 milhões – número exemplificativo, uma vez que parte da produção se destina ao formato de bag-in-box. No exercício de 2023, o volume de negócios da Adega foi de um pouco mais de 10 milhões de euros, uma quebra de 4,2% face ao ano transato – o melhor de sempre, quase 11,5 milhões de euros.
Adega do Cartaxo investiu 16 milhões de euros desde 2004
À data, a Adega do Cartaxo tem 168 associados e uma área produtiva de vinha de cerca de 800 hectares, valor que, em breve, vai ascender aos 850ha, todas localizadas na sub-região do Cartaxo, e região vitivinícola dos Vinhos do Tejo.
No que toca a investimentos, os últimos 20 anos foram frutíferos. Desde 2004, representaram cerca de 16 milhões de euros, essencialmente na vertente tecnológica e ambiental, com as energias renováveis a destacarem-se nos últimos quatro anos. Uma aposta em boas práticas de sustentabilidade, que, ainda este ano, vão ser reconhecidas e, por conseguinte, certificadas pela Sustainable Winegrowing Portugal, no âmbito do Referencial Nacional de Certificação de Sustentabilidade do Sector Vitivinícola, criado pelo Instituto da Vinha e do Vinho (IVV) e promovido pela ViniPortugal. Isto permitirá um reconhecimento a nível nacional e internacional, cada vez mais valorizado por alguns mercados. Nota para a certificação da Adega do Cartaxo com a ISO 22000. A Adega do Cartaxo tem o compromisso com a qualidade, das uvas aos vinhos e está apostada em valorizar cada vez mais a matéria-prima, aumentando a criação de valor para os vinhos. Para o materializar, está pensada a construção de uma adega de microvinificação, muito importante para a constante aposta na Investigação & Desenvolvimento, que se soma a um armazém para produto acabado e materiais secos, num investimento total de 1,35 milhões de euros.
Vinhos de elevada qualidade
A Adega do Cartaxo produz e comercializa vinhos para o mercado nacional (74%) e internacional (26%), com destaque para a França, Polónia, China, seguidos da Rússia, Brasil, Estados Unidos da América e Canadá. No que toca a referências são já cerca de uma centena, sob onze marcas destinadas ao mercado nacional – Bridão, Coudel Mor, CTX, Desalmado, Detalhe, Encostas do Bairro, Marquês d’Algares, Plexus, Tá de Pé, Terras de Cartaxo e Xairel – e mais de uma dezena para mercados de exportação.
Com forte conhecimento da região e do Portugal vinícola, a equipa de enologia e a administração da Adega do Cartaxo estão convictos que é no Cartaxo que se encontram as uvas mais equilibradas do país, ao nível da acidez, o que é um fator chave para a criação de vinhos de elevada qualidade e potencial de guarda. Aliás, por isso mesmo, para assinalar os 70 anos da Adega, foi apresentado um vinho muito especial, produzido em 2015 e engarrafado em 2017, tendo estado a estagiar até agora: o Adega do Cartaxo Edição Comemorativa 70 Anos.
Antes de ficarmos a conhecer esta edição especial, houve a oportunidade de provar 2 vinhos feitos a partir da casta Fernão Pires, o Bridão 99 e o Bridão 2007. O primeiro mostrou notas de maçã assada, fruta madura, casca de laranja. Na boca mostra citrinos evidentes, fresco, bem encorpado, muito interessante, com final longo e demonstrativo da idade. O segundo é muito harmonioso, tem notas de fruta madura, especialmente citrinos confitados, abacaxi desidratado. Na boca tem muita frescura, vivacidade, notas de pimenta branca, citrino, encorpado. Termina longo e cativante.
E depois foram provados três tintos. O Adega do Cartaxo 1978, um vinho fresco, mentolado, vegetal seco, notas de café, tostados delicados, ligeiro fumo. Na boca mantém acidez e frescura, taninos suaves, ligeiro amargor (seguramente do engaço), termina longo. O Bridão 95 a revelar boa evolução, fruta madura e desidratada. Na boca é cheio, com boa acidez e frescura, taninos finos e macios, boa persistência final, ligeira especiaria. Por fim o Bridão Reserva 98 com um toque floral, sardinheira, fruta madura e desidratada. Na boca é algo doce, mas logo se percebe que está em equilíbrio com a acidez, a madeira a dar alguma complexidade, taninos macios, especiaria, deixa um final longo e interessante.
Seguiu-se a prova da estrela do dia. O Adega do Cartaxo Edição Comemorativa 70 Anos foi elaborado a partir do blend de diversas barricas que se destinavam a vários vinhos, entre os quais Desalmado, Bridão Reserva, Bridão Private Collection, Bridão Alicante Bouschet, Bridão Touriga Nacional e Bridão Trincadeira. O resultado é um vinho com uma grande panóplia de castas: Touriga Nacional (40%), Alicante Bouschet (30%), Trincadeira (10%), Cabernet Sauvignon (5%), Merlot (5%), Syrah (5%) e Tinta Roriz (5%). As uvas foram totalmente desengaçadas, esmagadas e sujeitas a uma maceração prolongada durante cinco dias, com controlo de temperatura de fermentação a 25.ºC. Enaltece o terroir do Cartaxo, sub-região situada na zona do Bairro, a norte do rio Tejo.
Nota: 19,5 | Prémio Paixão Pelo Vinho Prestígio
Adega do Cartaxo Edição Comemorativa 70 Anos
DOC do Tejo tinto Grande Reserva 2015
Castas: Touriga Nacional, Alicante Bouschet, Trincadeira, Cabernet Sauvignon, Merlot, Syrah e Tinta Roriz
14,5% | 70€ | 1954 grfs
Cor granada, limpo. Riqueza aromática, fresco, intenso em frutos vermelhos, geleia, framboesa, ligeiras notas tostadas, chocolate e especiarias. Na boca é complexo, tem taninos firmes mas macios, muito fresco, cheio de vida, boa acidez, bom corpo e volume, especiarias, baunilha, fruta madura, madeira suave e salinidade, é bem gastronómico. Termina persistente e promete continuar a crescer em garrafa. MHD