Recentemente tivemos oportunidade de provar várias colheitas de monvarietal Tannat Quinta do Gradil. O local escolhido para a prova vertical, foi o elegante e exclusivo restaurante Federico situado num dos mais belos pátios interiores de Lisboa e integrado no Palácio de Ludovice. Ao longo da refeição, idealizada pelo chef Ricardo Simões e responsáveis da Quinta do Gradil, provámos algumas das colheitas mais marcantes em perfeita harmonia com as iguarias propostas.
O primeiro registo histórico da Quinta do Gradil, situada no concelho de Cadaval, data de 1492. Uma das personalidades que dinamizaram a exploração agrícola da quinta, foi D. Maria do Carmo Romeiro da Fonseca no século XIX, associada à construção da capela de Santa Rita de Cássia e do palácio amarelo. Desde essa época até meados do século XX foi propriedade da família do Marquês de Pombal. Mais “recentemente” em 1963, passou para as mãos de Isidoro Maria d’Oliveira, lavrador e poeta, que deu continuidade ao legado apostando na cultura das vinhas e produção de vinho.
A partir de 12 de Maio de 1999, integra o Grupo Parras liderado por Luis Vieira com uma história familiar ligada ao comércio de vinho, em particular o seu avô António Gomes Vieira, conhecido por Ganita. A aposta passou pela total reabilitação da vinha com algumas castas pouco comuns ou inexistentes na região, construção de marcas de referência com posicionamento num segmento superior e desenvolvimento de uma estratégia integrada de enoturismo. O primeiro vinho, desta nova vida da Quinta, foi produzido em 2003 em parceria com a Dão Sul (até 2010).
Tannat, variedade francesa, uruguaia ou portuguesa?
Oriunda de Madiran nos Pirenéus Franceses, a Tannat tornou-se a casta mais emblemática no Uruguai onde é conhecida por Harriague. Nestes dois países assume perfis distintos em virtude dos diferentes solos e climas. Não sendo uma casta tintureira apresenta grande concentração de cor na película e na polpa, muito rica em polifenóis e de elevada carga tânica.
A prova vertical, foi uma “viagem” no tempo, comentada pelos enólogos António Ventura e Ana Penha, que referiram as características genéricas da casta e os diferentes perfis que assume em função dos anos agrícolas ou opções de vinificação. A vinha de 2 hectares foi plantada em 2006 em solos argilo-calcários entre a Serra do Montejunto e o mar, beneficiando de um clima muito particular.
Para percebermos o potencial e especificidades da casta, começámos por provar a colheita 2022 onde tudo surge com grande intensidade e, por isso, descansa ainda em garrafa antes de ir para o mercado. Seguiram-se os vinhos dos anos de 2019, 2018, 2015 tendo terminado com a primeira colheita que ocorreu em 2009 (o 2015 e o 2009 tinham 15% de Touriga Nacional com a ideia de, num consumo mais imediato, atenuar a potência do vinho). As harmonizações estiveram em grande nível, interpretando, respeitando e potenciando o perfil particular de cada colheita. Ainda houve oportunidade de provar a colheita que se encontra atualmente no mercado, o 2021. Em todas os vinhos provados é notório a cor carregada, a intensidade fresca de aromas e sabores com os taninos marcadamente presentes. Vinhos estruturados, com notas de fruta preta madura, carga vegetal, alguma adstringência e boa afinidade com a barrica, com nuances de cacau e tabaco.
Antes do final do evento, ainda foram servidos para degustação, o Colheita Tardia 2021 e uma aguardente vínica XO Extra Old.
Neste ano que se celebra o 25º aniversário da Quinta do Gradil sob gestão de Luís Vieira, aproveitamos para parabenizar a toda a equipa por tudo aquilo que fizeram neste quarto de século, colocando a Quinta num patamar de excelência!