Cascale é a marca do produtor Monte Cascas para os seus vinhos naturais. Depois de um orange wine, um Síria de curtimenta da Beira Interior, surge agora um vinho de talha, o Cascale Petroleiro 2019, produzido no Alentejo.
A grande curiosidade é que este vinho é um Petroleiro (daí o seu nome), ou seja, um vinho que mistura castas brancas e tintas, na proporção de aproximadamente 70% – 30% (respetivamente). O Petroleiro é uma tradição e um vinho muito comum nas tascas na zona da Vidigueira, onde o Vinho de Talha teima em persistir há mais de 2000 anos. No entanto, apesar de vários enólogos e produtores estarem a recuperar o Vinho de Talha, tirando-o das tascas onde tradicionalmente é consumido, levando-o a outras mesas e dando-lhe a dignidade que merece, ficam-se pelo branco e pelo tinto. Helder Cunha, enólogo e fundador do Cascas Wines, foi o primeiro enólogo a apostar neste vinho tão particular e a colocar no mercado um Petroleiro que, como diz e nós concordamos, está na “dimensão que os Talha merecem estar”.

Foi em 2018 que Helder foi desafiado pelo amigo, também enólogo, Ricardo Santos (nada menos que um dos sócios do projeto XXVI Talhas, de Vila Alva, no Alentejo), para fazer um Vinho de Talha, mas só um ano mais tarde se concretizou. O vinho é feito na Adega do Mestre Daniel, onde são feitos os vinhos XVI Talhas e foi Ricardo que ajudou Helder a encontrar a vinha, também em Vila Alva, onde nascem as uvas para o Cascale Petroleiro. Uma vinha muito velha, não aramada de condução em taça, com sete castas brancas e tintas misturadas, exatamente na proporção certa: Antão Vaz, Trincadeira, Manteúdo, Roupeiro, Perrum, Diagalves, Aragonez e Tinta Grossa.
O vinho, apresentado numa elegante garrafa com um bonito rótulo da autoria de Joana Lucas, apresenta uma bonita cor rosa velho carregado e aroma a frutos vermelhos, com notas químicas e de especiaria. A boca é muito fresca e elegante, com volume e textura e, devido às castas tintas, também com algum corpo e tanino. Um vinho único, gracioso e guloso, ideal para acompanhar queijo e as castanhas tão próprias desta época.
Por João Pereira Santos, revista Paixão Pelo Vinho