A Família Cardoso chegou ao Alentejo em 2011 através da aquisição da Herdade da Lisboa, na Vidigueira. Se foi o olival que atraiu João Cardoso, o patriarca da família, foi pelo vinho que se apaixonou. Surgem agora novos vinhos, com a chancela Paço dos Infantes, surpreendentes e inusitados.
A Herdade da Lisboa constitui uma referência no Alentejo, particularmente na Vidigueira, onde se situa. Foi aí que, nos anos 80 e 90 do século passado foram produzidos os primeiros vinhos Paço dos Infantes, vinhos icónicos que anteciparam o novo Alentejo que então começava a surgir e que constituem uma boa memória para quem os provou. Ainda recentemente tive oportunidade de adquirir um tinto de 1984 que se mostrou naturalmente evoluído, mas em muito boa forma. Com o tempo a produção foi decaindo, chegando mesmo a desaparecer, até que em 2011 a propriedade foi adquirida pela Família Cardoso, de origem Ribatejana (também presente nas regiões do Tejo e do Douro), que iniciou a requalificação dos 100 hectares de vinha, da monumental adega, incluindo a aquisição de equipamento de vinificação de última geração e a recuperação da consagrada marca Paço dos Infantes, resgatando-a do esquecimento. Tudo isto com o maior respeito pelo terroir único da Vidigueira e pela história e tradição do Alentejo e dos seus vinhos.
Com a enologia entregue à dupla Ricardo Xarepe e António Selas e o setor comercial ao experiente Joaquim Cândido da Silva, começaram a surgir novos vinhos, tintos, brancos, rosés e espumantes, a mostrar o carater e a riqueza dos solos xistosos da Vidigueira, com as marcas Convés, Infantes, Herdade da Lisboa e Paço dos Infantes, que pretendem fazer jus à identidade da Vidigueira e em particular ao terroir da Herdade da Lisboa. Recentemente foi dado mais um passo na estratégia do produtor, ao serem colocados no mercado três topos de gama: falamos do branco Paço dos Infantes ODB Verdelho 2020, o Paço dos Infantes Reserva Tinto 2019 e o Paço dos Infantes Garrafeira Branco 2019.
O primeiro, tem origem numa vinha de dois hectares já plantada pela Família Cardoso em 2016 e é fermentado num ovo de cimento (ODB significa “oeuf de Beaune”, a famosa cidade da Borgonha) com leveduras indígenas e aí estagiado por oito meses, ao que se segue um estágio de seis meses em garrafa. De acordo com os enólogos, esta vinificação garante maior cremosidade, frescura e mineralidade, num vinho elegante e complexo com um final longo.
O Paço dos Infantes Reserva Tinto 2019 por sua vez resulta de um lote de Alicante Bouschet (50%), Touriga Nacional (30%) e Cabernet Sauvignon (20%) que fermenta em inox e posteriormente estagia 12 meses em barricas novas de carvalho francês de 300 e 500 litros, ao que se segue 10 meses em garrafa. O vinho apresenta-se simultaneamente concentrado, elegante e fresco, num perfil eminentemente gastronómico, a pedir pratos de sabor intenso. Ainda muito jovem, mostra especiaria, fumados e uma fruta de grande pureza. Um vinho de grande classe.
Por fim, a joia da coroa: o Paço dos Infantes Garrafeira Branco 2019, feito a partir de Arinto (70%) e Alvarinho (30%). Um vinho de luxo, feito com todos os cuidados, rico e complexo onde se aproveita apenas a lágrima, que faz uma curtimenta de 48 horas, antes da fermentação individual das castas em barricas novas de carvalho francês de 500 litros. De seguida o vinho estagia oito meses sobre borras finas, com bâtonnages frequentes, ao que se segue um ano e meio em garrafa. Mineral com notas vegetais, grande frescura, volume e untuosidade, resulta num vinho de grande equilíbrio, focado e elegante, de grande categoria, a entrar diretamente na classe dos melhores brancos do Alentejo.
Estes vinhos, surpreendentes e inusitados, vêm afirmar a Família Cardoso como mais um importante player naquela que é uma das sub-regiões mais dinâmicas do Alentejo, fazendo justiça a uma marca histórica que merece ressurgir. Em grande estilo, dizemos nós.
Por João Pereira Santos