Vercoope: 60 anos a promover o Vinho Verde
Surgiu como uma forma de ultrapassar as dificuldades de uma região dominada pelo minifúndio. Hoje, seis décadas depois, a Vercoope -União das Adegas Cooperativas da Região dos Vinhos Verdes, é o segundo maior player da Região Demarcada dos Vinhos Verdes, com a exportação a representar cerca de 30% das vendas.
Estávamos em 1964 quando um conjunto de adegas decidiu juntar-se para promover o vinho verde. Começou com o nome de União das Adegas Cooperativas da Região dos Vinhos Verdes S.C.R.I., tendo evoluído, mais tarde, para a atual designação – Vercoope. Foi criada com o objetivo de “ultrapassar as dificuldades pelas quais passavam a produção e comercialização do Vinho Verde”, como é descrito no livro comemorativo dos 60 anos da Vercoope. A isto, acrescenta José Castro, responsável pelo marketing e comunicação da entidade, já desde o início houve o intuito de internacionalizar o vinho.

Este foi um projeto “visionário”, lembra o responsável, acrescentando que, na sua fase inicial, a Vercoope teve a sorte de contar com pessoas com muita visão para unir e criar escala de algo que seria difícil fazer separadamente. Convém lembrar que a região dos Vinhos Verdes é dominada por minifúndios. Ou seja, um viticultor com um hectare de vinha não teria hipótese de produzir e comercializar (pelo mundo) o seu vinho. O mesmo se aplica às adegas cooperativas. A prova é que, entretanto, muitas desapareceram.
Hoje, a Vercoope tem no seu universo sete adegas cooperativas, sendo que uma delas já não opera: Adega Cooperativa de Amarante; Cavagri – Cooperativa Agrícola do Alto Cávado; Frutivinhos – Cooperativa Agrícola de V. N. Famalicão; Adega Cooperativa de Guimarães; Adega Cooperativa de Paredes (não está a operar); Cooperativa Terras de Felgueiras; e Adega Cooperativa de Vale de Cambra.

Ao longo do tempo, a região tem registado algumas transformações, nomeadamente a fusão entre algumas entidades, o que fez diminuir o número de produtores e tornou a região menos fragmentada. Hoje, ao todo, e segundo José Castro, a Vercoope tem cerca de 3.000 produtores que trabalham cerca de 3.000 hectares (valor estimado), que resultam numa produção de 10 milhões de garrafas por ano. Uma grande evolução comparada à sua fundação, quando a produção rondava cerca de três milhões de litros, aponta José Castro. Acrescenta ainda que, nessa altura, não se comercializavam garrafas, mas sim garrafões. “O portfólio foi evoluindo e hoje praticamente só usamos garrafas”.
Tudo mudou quando, em 1998, a Vercoope decidiu começar a substituir as vendas em garrafão e garrafas de um litro por vinhos de garrafeira. E, como se costuma dizer… nada nunca mais foi o mesmo. A entidade considerou que, para aumentar a qualidade, era essencial essa substituição. E, como reconhece no seu livro comemorativo, “as vendas e a faturação vieram demonstrar que a aposta no atributo qualitativo fez toda a diferença”.
A internacionalização foi um dos objetivos que levou à criação da Vercoope. Algo que a instituição começou a fazer, refere José Castro, há cerca de 25 anos, nos finais da década de 80, nomeadamente para os chamados “mercados da saudade”, diga-se, onde havia comunidades de emigrantes portugueses: África, França, Luxemburgo, Alemanha e Estados Unidos da América.

Hoje a situação “foi completamente invertida”. Embora os mercados da saudade continuem a ser importantes, o grosso do negócio vai para o mercado internacional – os chamados países terceiros, intracomunitários. No topo dos países para onde a Vercoope vende estão o Brasil, os Estados Unidos da América, a Rússia, a Ucrânia e o Japão. A guerra na Ucrânia teve o seu impacto, não porque a procura no mercado russo tenha caído, mas sim pelas dificuldades logísticas, operacionais e custos associados. Apesar de o peso do mercado russo ter diminuído devido a estes constrangimentos, José Castro revela que o valor do mesmo ainda é significativo. “O consumidor russo gosta muito de vinhos verdes”, aponta o responsável de marketing da Vercoope, que acrescenta que, apesar da penalização atribuída aos vinhos europeus, o vinho verde tem a vantagem de não ser de fácil substituição por produtores concorrentes (de outros países). “As vendas dos vinhos de mesa caíram cerca de 80 a 90%”, explica José Castro, enquanto o vinho verde caiu cerca de 50%.
O facto de a Vercoope ter conseguido “desviar” as vendas inicialmente destinadas à Rússia para outros mercados ajudou a manter a boa saúde financeira da entidade. Como refere José Castro, a Vercoope cresceu (bastante) no Brasil, nos Estados Unidos da América e também na Alemanha. Algo que vai em linha com as exportações da região, em que os principais mercados são os Estados Unidos da América, Alemanha, Polónia e França. Não é por acaso. Como refere Casimiro Alves, presidente da direção da Vercoope, na apresentação do livro sobre os 60 anos, a entidade é atualmente o “segundo player da Região Demarcada dos Vinhos Verdes, representando o mercado nacional cerca de 70% das vendas globais em valor e 75% em volume”.

Um outro dado interessante: “No mercado externo, a Vercoope exporta para mais de 40 países em todos os continentes, sendo que este mercado representa cerca de 30% em valor e cerca de 25% em volume”.
Sobre 2024, a Vercoope perspetiva um crescimento de 7 a 8% em valor, um crescimento que tem sido relativamente estável ao longo do tempo. Para este ano, a Vercoope vai lançar uma edição comemorativa de monocastas. “Estamos a fazer uma seleção especial de várias monocastas de Vinho Verde”, revela o responsável. A par disso, a Vercoope tenciona comercializar, de forma mais intensa, o Pet-Nat (lançado no ano passado), que teve uma distribuição mais circunscrita. O objetivo é ter esta referência não só na grande distribuição, mas também na restauração, sem esquecer a contínua aposta no frisante, cuja procura tem vindo a aumentar.
Quanto a mercados, José Castro avançou que a Vercoope tem em vista novas parcerias nos Estados Unidos da América, no Brasil e na Ucrânia – “continua a ser um bom mercado, que não caiu” –, assim como investir em novas geografias, nomeadamente na Ásia.
Para alcançar estes objetivos, a Vercoope, nos últimos quatro anos, já investiu dois milhões de euros na modernização da adega, nomeadamente em infraestruturas e equipamentos: cubas de aço inox, aumentando a capacidade de armazenamento em dois milhões de litros; revestimento da cobertura e tetos com materiais mais isolantes; colocação de painéis solares para maior autonomia e eficiência energética; aquisição de uma nova rotuladora e despaletizadora; aquisição de um dessulfitador; substituição progressiva da frota para veículos elétricos; e decoração das fachadas com logos e murais.
